quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O TURISTA

A evolução da humanidade está estreitamente vinculada a episódios nos quais o homem se apresenta como desbravador do desconhecido, objetivando ampliar os limites de suas propriedades ou, até mesmo, de seus conhecimentos.
Após as incursões realizadas pelos Vikings, Mongóis, Moisés, Romanos, Cruzados e Bandeirantes, eis que surge uma categoria de destemidos cidadãos, popularmente conhecidos por “turista”.
O turista, sempre “meio alegre, meio abestado”, traz “escrito na testa” para que veio: maquina fotográfica nas mãos capta a imagem de tudo que encontra pela frente, desde “cocô de pombo” nas calçadas até “estátuas” que, nem mesmo os residentes do local sabem a quem homenageiam.
O turista, fazendo a festa por onde passa, adora uma “feira de artesanato”, onde adquire tranqueira tipo “alguém que me ama muito esteve aqui e lembrou de mim”. Frequenta, com desenvoltura, os supermercados das redondezas dos hotéis onde está hospedado, objetivando comprar alimentos suficientes para neutralizar ao menos uma refeição diária.
O turista é reconhecido à distancia, seja o brasileiro ou estrangeiro, mas, os japoneses, são fantásticos. Pipocam em todo canto, mais parecem formiguinhas, andando apressados, não compram nada, mas querem ver tudo. Estejam eles nas praias do Nordeste ou nas gélidas montanhas de Mont Blanc, na Suíça, sempre vestem roupas frouxas e sapato de sola. Perninhas curtas e cabelos arrepiados exultam ao registrar em sua câmara digital a imagem de seu rosto ao lado de uma folha de cactos no deserto do Arizona, de um jumento na Ilha de Saint Thomas ou, ainda, de um cacho de banana em Aruba.
O turista é um sujeito gozado. Em suas viagens, é capaz de realizar aventuras que jamais ousaria em sua cidade natal. Pular do alto de uma rocha, nas praias de Acapulco, correr nas margens no canal Rideau, em Ottawa, no Canadá, sob uma temperatura abaixo de zero, ou deixar-se ornamentar com uma “serpente naja” no pescoço, na Praça Jamaa Al Fna, em Marrakech, no Marrocos.
O turista é roubado com satisfação. Não reluta em pagar vinte euros para colocar o dedo na genitália de uma prostituta, que faz ponto em uma das vitrines da rua vermelha, em Amsterdam, ou cinco dólares para subir no dorso de um camelo, nas cercanias das Pirâmides do Egito e, o que é pior, desembolsar três vezes este valor para apear do animal, se não quiser pular de uma altura superior a dois metros. Não questiona, ao entregar cinquenta reais para o motorista de um taxi, a fim de ser transportado do cais do porto de Maceió até a feirinha da Pajuçara ou mesmo entregar mil e quinhentas pratas por um passeio de lancha ao redor da Ilha Grande, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
O turista é feliz e, assim sendo, é capaz de conhecer a Europa com uma sacola nas costas visitando as cidades durante o dia e pernoitando a bordo de trens. O importante é voltar para sua origem e contar que conheceu Roma, Londres, Paris e Madrid.
O turista compra um berimbau na Bahia, uma sela de cavalo na Argentina, um carrinho de neném no mercado de Istambul, um boneco gigante do Mickey, na Disneyworld, e quer entrar com toda esta bagagem no avião, para acomodar, de preferência, no espaço existente exatamente sobre seu assento.
Enfim, o turista, que é a alegria personificada, em suas incursões, fortalece a economia do local visitado, ao tempo em que recarrega suas baterias para continuar vivendo. Um dia todos nós já fomos turistas...


Alberto Rostand Lanverly


Professor da UFAL

Membro da Academia Maceioense de Letras

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