sábado, 30 de janeiro de 2010

Eu estava ali deitado - Luiz Vilela

Eu estava ali deitado olhando através da vidraça as roseiras no jardim fustigadas pelo vento que zunia lá fora e nas venezianas de meu quarto e de repente cessava e tudo ficava tão quieto tão triste e de repente recomeçava e as roseiras frágeis e assustadas irrompiam na vidraça e eu estava ali o tempo todo olhando estava em minha cama com minha blusa de lã as mãos enfiadas nos bolsos os braços colados ao corpo as pernas juntas estava de sapatos (...)"

"fechei os olhos e contei até quinhentos e recordei os nomes de todas as capitais do Brasil e da Europa e redordei os nomes de dezenas de rios e dezenas de montanhas e deitei de bruço e deitei do lado direito e deitei do lado esquerdo e deitei de bruço outra vez e pus o travesseiro em cima da cabeça e pus o travesseiro debaixo da cabeça e apertei a cabeça contra a parede e apertei mais ainda a cabeça contra a parede e apertei tanto a cabeça contra a parede que ela doeu e então virei de costas outra vez e enfiei as mãos nos bolsos colei os braços ao corpo juntei as pernas abri os olhos e estava de novo olhando através da vidraça as roseiras frágeis e assustadas fustigadas pelo vento que zunia lá fora e nas venezianas de meu quarto "












"Papai estava parado à porta:
- pensei que você estava dormindo.
ele falou eu sorri:
- que vento hein! Ele falou e eu olhei para a vidraça e lá estavam as roseiras frágeis e assustadas fustigadas pelo vento esse mês de junho é terrível ele falou ele estava parado no meio do quarto estava de paletó e gravata e pulôver esfregava as mãos:
- eu vou lá no Jorge você não quer ir também?"


Veja Completo
http://www.youtube.com/watch?v=Qv0f1H7DnTA

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