segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O Vagabundo & O Estranho Mundo da Commedia dell'Arte (Parte 2)



O Sol acordou como quem não dormira e acordara cansado, ainda com os lençóis que escondiam seu rosto e nublavam o céu.
Como o amanhecer doía na alma remendada daquele vagabundo. Seu coração apertava como se uma donzela de ferro o esmagasse, sentia o sangue manchar sua alma com uma cor que mal sabia o nome, mas para ele era triste como todo o amanhecer.
A geladeira observava o acordar do dia com a mesma ironia que observava o acordar do vagabundo.
-Jack, envernize seus pensamentos antes deles envelhecerem, para que envelheçam com brilho – pediu a geladeira com um sorriso no canto da boca.
Jack sentia fome. O alimento que comera na noite anterior o fez adormecer, mas não matara sua avidez por comida. Continuou olhando a geladeira com desprezo, não conseguia ser gentil mesmo que quisesse, pois o demônio agora era dono de seu sorriso. Sentia falta dele para enganar o sol da tristeza, que concebia de seu despertar. Levantou-se e se pôs a andar.
A geladeira parecia divertir-se com cada movimento do vagabundo. Jack vestia-se com uma ansiedade que perdia a cor de tão gasta.
O vagabundo andou rumo à estrada. Achara que tinha perdido tempo dormindo. Observou três caminhos a sua frente, um em direção ao norte, o outro ao oeste e um terceiro ao céu. A geladeira gritou antes dele dar a decisão.
- Jack não escolha caminhos que não tenham o número de seus pés, para que assim não cause calos neles ou os deixe folgados demais. Então Jack escolheu o caminho que levava ao céu e a geladeira, com um belo sorriso no rosto, pensou: número errado!
...

Guilherme Di França

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